terça-feira, 27 de abril de 2010

Livro do francês Hervé Bourhis reconta história do rock em HQ


Dóris Miranda | Redação CORREIO

É só rock’n’roll. Mas quase todo o mundo gosta. Pois bem, quem tem o rock como estilo de vida não pode perder a maravilha ilustrada que o desenhista francês Hervé Bourhis, 35 anos, preparou para os fãs do gênero: O Pequeno Livro do Rock (Conrad/R$ 45/224 páginas). Composta como uma história em quadrinhos, a obra reúne toda a trajetória do gênero musical batizado pelo radialista americano Alan Freed, em 1951.

O encanto começa na capa, ainda fechada. Vermelha, com o centro preto, parece um daqueles antigos compactos de vinil de 45 rotações. Ao abrir o volume, uma experiência única. São centenas de quadrinhos que ilustram, ano a ano, o que se passou da década de 50 para cá, através de capas de discos, letras de música, moda, fatos e boatos divulgados mundo afora. Tudo com um texto divertido e, acima de tudo, pessoal. ustamente por isso, o almanaque de Hervé Bourhis é tão bacana. É tão caótico quanto o rock’n’roll, gênero que mudou o comportamento do jovem no mundo há 60 anos e, contrariando os diversos anúncios de sua morte, parece ainda não ter encontrado substituto à altura. “Não sou um crítico de rock profissional, não tenho vontade de ser completo, objetivo ou de boa-fé. Em suma, não tenho nenhuma legitimidade para escrever este livro, e foi por todas essas razões que eu mesmo assim o escrevi”, anuncia ele, no prefácio.

Pesquisa
A relação do autor com o rock começou aos 14 anos, quando começou a tomar nota de tudo o que lia em jornais e revistas especializados. Em 2005, passou a organizar as anotações. Surgia ali o esqueleto do Pequeno Livro. “O rock salvou minha vida. Estava morrendo de tédio quando entrei de cabeça na música. O que virou minha cabeça foi escutar Nevermind, do Nirvana”, conta. Revelando uma pesquisa extensa, Bourhis volta até 1915, quando foi lançado o primeiro jukebox de discos. Daí, vai mostrando a eletrificação da guitarra, a mudança de conceito do race blues para rhythm and blues até o batismo do rock propriamente dito no programa Moondog Rock and Roll Party, na rádioWJW, de Cleveland, Ohio.

Em 1953, aos 19 anos, Elvis Presley grava quatro músicas no estúdio Sun Records para sua mãe. No ano seguinte, a Fender lança a guitarra Stratocaster. Em 1955, Little Richard lança Tutti Frutti. Em 56, Elvis rebola, ao vivo, no Ed Sullivan Show, deixando os EUA boquiabertos. Em 1962, os Beatles e os Beach Boys lançam seus primeiros álbuns. Em 1964, os Rolling Stones já estão com tudo. No mesmo ano, o guitarrista do Kinks inventa a distorção ao rasgar a membrana do alto-falante de seu amplificador.

E por aí Bourhis vai. Em 1969, David Bowie lança Space Oddity, que se torna trilha sonora da chegada do homem à Lua. Em 1971, a black music ganha força nos EUA. Três anos depois, Bob Marley populariza o reggae. Em meados de 70, o punk rock chega com a força de Sex Pistols, Ramones e The Clash. A década de 80 surge misturando o rock triste doThe Cure,The Smiths e Joy Division com a música engajada do U2. Hit máximo: Thriller, de Michael Jackson. O bacana é que o livro não se prende ao rock americano ou ao brit pop. Ilustra muito bem a produção francesa, cujo ícone máximo ainda é o mito Serge Gainsbourg. Além da história propriamente dita, o livro cria espaços de oxigenação que divertem horrores. Um dos mais interessantes são as listas (quem não gosta delas?) que o autor propõe, no estilo Top 5. Há melhores de rhythm’n’blues, canções para surfar na Califórnia, os rocks mais selvagens, os artistas que morreram de overdose e as lojas de discos favoritas do autor e até a didática lista para entender o rock francês.

Engraçadíssimas são as ‘biografias’ que apresenta com artistas problemáticos. Alma dos Beach Boys, Brian Wilson, por exemplo, tem sua esquizofrenia exposta na narrativa do processo de gravação do álbum Smile, que demorou 37 anos para sair. Melhor mesmo são as batalhas polêmicas entre ícones de mesmo estilo. Tem guerra entre Chuck Berry contra Little Richard, Lou Reed versus David Bowie, The Who e The Kinks, Nirvana contra Pixies, Michael Jackson versus Prince, só para citar as melhores.

Sem se deter apenas nos mitos, O Pequeno Livro do Rock acaba servindo como uma discoteca básica do gênero, tamanho o volume de informações que acumula.

Brasileiros também são citados no livro
O Brasil também não ficou de fora da pesquisa que gerou O Pequeno Livro do Rock. No meio de tantos, Hervé Bourhis cita a Bossa Nova de Vinicius de Moraes, Tom Jobim e do baiano João Gilberto, apresentando o disco Chega de Saudade. Fala também do experimentalismo dos Mutantes, chamados pelo autor de Beatles brasileiros. Neste ponto, ele também cita a ditadura do Brasil.

A imersão percussiva do Sepultura no álbum Roots e o hype do Cansei de Ser Sexy também estão lá. Mas Bourhis acabou se confundindo. No lugar da banda paulista, ilustrou com o duo inglês Ladytron, que também faz tecnorock.

O melhor do rock francês segundo Hervé Bourhis

Serge Gainsbourg
Melody Nelson (1971)

Serge Gainsbourg
Initials BB (1988)

Brigitte Fontaine
Comme à la Radio (1969)

Pierry Henry
Messe pour le Temps Présent (1967)

Superdiscount
Superdiscount (1996)

Françoise Hardy
La Question (1971)

Daft Punk
Discovery (2001)

Katerine
Mês Maivaises Fréquentations (1996)

Michel Poinareff
Polnareff's (1970)

Air
Premiers Symptômes (1997)

FONTE: CORREIO*

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