DELLANO RIOS
Histórias em quadrinhos são destaque na IX Bienal Internacional do Livro do Ceará. Adultos e crianças lotam estandes dedicados ao meio e programação inclui pesquisadores, colecionadores e mestres da nona arte
Poucas portas são melhores para a entrada no mundo da leitura que aquela oferecida no abrir das páginas de uma história em quadrinhos. Não faltam exemplos de grandes leitores que, sobretudo na infância, foram devoradores de HQs. Um deles é o escritor Pedro Bandeira, que participa da IX Bienal Internacional do Livro do Ceará (sábado, 16h30). Ele se diz um apaixonado pela mídia dos quadrinhos. "Na minha infância, era moda. Os quadrinhos são um grande auxiliar no despertar da vontade de ler, de estudar", afirmou, em entrevista ao Caderno 3.
Os quadrinhos já passaram por maus bocados - a histórica perseguição da escola, de pais pouco inteligentes e intelectuais dados a análises apressadas e à intolerância; além da oscilação de vendagem e, por conta dela, da oferta de títulos. Atualmente, as HQs vivem um bom momento. Nem de longe é o ideal, mas há tempos não se via tanta variedade no material disponível do Brasil, que atendem públicos de idades e preferências diversas.
O sempre instável mercado dos "quadrinhos de super-heróis", monopolizado pelo material das editoras norte-americanas Marvel e DC Comics, vai sobrevivendo como pode, mudando de casa, reconfigurando o formato de seus títulos; dos quadrinhos infantis tradicionais, a Turma da Mônica de Mauricio de Sousa, outro convidado da Bienal (domingo, 13h30), segue firme, forte e em expansão. Ganhou um bem sucedido derivado, a Turma da Monica Jovem, voltada para o público pré-adolescente/adolescente que influenciou a criação de versões teen de Luluzinha e Didi Mocó.
Além do material já conhecido, o mangá multiplica seus títulos, ultrapassando o momento em que se traduziam apenas histórias e aventura. Por fim, o novo xodó dos colecionadores, os encadernados, que reúnem clássicos Marvel/DC e os álbuns de luxo de quadrinhos norte-americanos e europeus.
Desafios
Convidado da Bienal, o professor Waldomiro Vergueiro (USP), um dos principais estudiosos das HQs no País, falou ao Caderno 3 sobre os desafios para o estudo dos quadrinhos e seu melhor aproveitamento nas salas de aula. A conversa antecipou algumas questões do debate "A importância da gibiteca na formação do gosto pela leitura", que o reúne com o pesquisador Ricardo Jorge, professor e coordenador da Oficina de Quadrinhos da UFC, amanhã (quinta-feira), às 16 horas.
Para Waldomiro Vergueiro, a dificuldade das ciências humanas e sociais em reconhecer as histórias em quadrinhos como um objeto de pesquisa rico se relaciona com um momento anterior da história das histórias em quadrinhos, quando elas eram "classificadas como um tipo de leitura dirigido somente para crianças, como algo transitório, sem importância".
Variedade de títulos
A situação tem mudado. Vergueiro acredita que a variedade de títulos tem ajudado na expansão da pesquisa acadêmica e a formação de uma crítica especializada. "Uma coisa ajuda outra. Com a variedade das produções, os estudantes se interessam mais, conhecem quadrinhos diferentes, com os quais tem afinidade. Com a produção acadêmica, outros adultos se interessam pelas HQs e fortalecem o mercado. Forma-se um círculo virtuoso", descreve.
A presença dos quadrinhos em sala de aula é um dos temas explorados pelo pesquisador. O Governo Federal já inclui às HQs, que hoje entram em listas de leituras recomendadas pelo Ministério da Educação.
O caminho, contudo, ainda é longo até uma incorporação efetiva da nova arte nos currículos escolares. "Falta familiaridade dos próprios professores com o meio, que o aplicam de forma inadequada. Muitas vezes eles não conhecem a linguagem, nem as melhores obras, nem que obra pode ser indicada para que público. Falta uma ´alfabetização´ das HQs. Elas devem fazer parte do currículo de formação dos professores", defende Vergueiro.
Como auxiliar à aprendizagem e incentivo à leitura, os quadrinhos vem sendo combinados coma literatura. A forma preferida é a tradicional (e irregular) adaptação. "É uma possibilidade de aplicação, mas não é nem deve ser a única.
Defendo que os quadrinhos sejam apreciados por serem quadrinhos, por sua linguagem e possibilidades próprias, não apenas quando são relacionados como a literatura".
Vergueiro diz que o problema também atinge as bibliotecas públicas do País. Em sua avaliação, elas não estão preparadas para receber quadrinhos. "Tantos os bibliotecários não tem familiaridade, como não há um planejamento da maneira como eles vão ser oferecidos. Não se deve ver os quadrinhos como isca para o livro", avalia.
Fique por dentro
Quadrinhos na Bienal
Na linha "grades nomes", o principal chamariz de hoje, na Bienal, é o mineiro Ziraldo Alves Pinto. Criador de personagens como o Menino Maluquinho, Julieta e Pererê, Ziraldo ministra a palestra "Ler é mais importante que estudar?", às 18h30. Perfil parecido tem o criador da Turma da Mônica. Mauricio de Sousa volta a Bienal depois de quatro anos. Ele fala no último dia do evento, domingo, às 15h30, em mesa mediada pelo artista visual Geraldo Jesuíno, lenda viva do quadrinho cearense.
MAIS INFORMAÇÕES:
IX Bienal Internacional do Livro do Estado do Ceará. Até 18 de abril de 2010, Centro de Convenções de Fortaleza (Av. Washington Soares, 1141). Site: www.bienaldolivro.ce.gov.br
Contato: (85) 3261.2022
Poucas portas são melhores para a entrada no mundo da leitura que aquela oferecida no abrir das páginas de uma história em quadrinhos. Não faltam exemplos de grandes leitores que, sobretudo na infância, foram devoradores de HQs. Um deles é o escritor Pedro Bandeira, que participa da IX Bienal Internacional do Livro do Ceará (sábado, 16h30). Ele se diz um apaixonado pela mídia dos quadrinhos. "Na minha infância, era moda. Os quadrinhos são um grande auxiliar no despertar da vontade de ler, de estudar", afirmou, em entrevista ao Caderno 3.
Os quadrinhos já passaram por maus bocados - a histórica perseguição da escola, de pais pouco inteligentes e intelectuais dados a análises apressadas e à intolerância; além da oscilação de vendagem e, por conta dela, da oferta de títulos. Atualmente, as HQs vivem um bom momento. Nem de longe é o ideal, mas há tempos não se via tanta variedade no material disponível do Brasil, que atendem públicos de idades e preferências diversas.
O sempre instável mercado dos "quadrinhos de super-heróis", monopolizado pelo material das editoras norte-americanas Marvel e DC Comics, vai sobrevivendo como pode, mudando de casa, reconfigurando o formato de seus títulos; dos quadrinhos infantis tradicionais, a Turma da Mônica de Mauricio de Sousa, outro convidado da Bienal (domingo, 13h30), segue firme, forte e em expansão. Ganhou um bem sucedido derivado, a Turma da Monica Jovem, voltada para o público pré-adolescente/adolescente que influenciou a criação de versões teen de Luluzinha e Didi Mocó.
Além do material já conhecido, o mangá multiplica seus títulos, ultrapassando o momento em que se traduziam apenas histórias e aventura. Por fim, o novo xodó dos colecionadores, os encadernados, que reúnem clássicos Marvel/DC e os álbuns de luxo de quadrinhos norte-americanos e europeus.
Desafios
Convidado da Bienal, o professor Waldomiro Vergueiro (USP), um dos principais estudiosos das HQs no País, falou ao Caderno 3 sobre os desafios para o estudo dos quadrinhos e seu melhor aproveitamento nas salas de aula. A conversa antecipou algumas questões do debate "A importância da gibiteca na formação do gosto pela leitura", que o reúne com o pesquisador Ricardo Jorge, professor e coordenador da Oficina de Quadrinhos da UFC, amanhã (quinta-feira), às 16 horas.
Para Waldomiro Vergueiro, a dificuldade das ciências humanas e sociais em reconhecer as histórias em quadrinhos como um objeto de pesquisa rico se relaciona com um momento anterior da história das histórias em quadrinhos, quando elas eram "classificadas como um tipo de leitura dirigido somente para crianças, como algo transitório, sem importância".
Variedade de títulos
A situação tem mudado. Vergueiro acredita que a variedade de títulos tem ajudado na expansão da pesquisa acadêmica e a formação de uma crítica especializada. "Uma coisa ajuda outra. Com a variedade das produções, os estudantes se interessam mais, conhecem quadrinhos diferentes, com os quais tem afinidade. Com a produção acadêmica, outros adultos se interessam pelas HQs e fortalecem o mercado. Forma-se um círculo virtuoso", descreve.
A presença dos quadrinhos em sala de aula é um dos temas explorados pelo pesquisador. O Governo Federal já inclui às HQs, que hoje entram em listas de leituras recomendadas pelo Ministério da Educação.
O caminho, contudo, ainda é longo até uma incorporação efetiva da nova arte nos currículos escolares. "Falta familiaridade dos próprios professores com o meio, que o aplicam de forma inadequada. Muitas vezes eles não conhecem a linguagem, nem as melhores obras, nem que obra pode ser indicada para que público. Falta uma ´alfabetização´ das HQs. Elas devem fazer parte do currículo de formação dos professores", defende Vergueiro.
Como auxiliar à aprendizagem e incentivo à leitura, os quadrinhos vem sendo combinados coma literatura. A forma preferida é a tradicional (e irregular) adaptação. "É uma possibilidade de aplicação, mas não é nem deve ser a única.
Defendo que os quadrinhos sejam apreciados por serem quadrinhos, por sua linguagem e possibilidades próprias, não apenas quando são relacionados como a literatura".
Vergueiro diz que o problema também atinge as bibliotecas públicas do País. Em sua avaliação, elas não estão preparadas para receber quadrinhos. "Tantos os bibliotecários não tem familiaridade, como não há um planejamento da maneira como eles vão ser oferecidos. Não se deve ver os quadrinhos como isca para o livro", avalia.
Fique por dentro
Quadrinhos na Bienal
Na linha "grades nomes", o principal chamariz de hoje, na Bienal, é o mineiro Ziraldo Alves Pinto. Criador de personagens como o Menino Maluquinho, Julieta e Pererê, Ziraldo ministra a palestra "Ler é mais importante que estudar?", às 18h30. Perfil parecido tem o criador da Turma da Mônica. Mauricio de Sousa volta a Bienal depois de quatro anos. Ele fala no último dia do evento, domingo, às 15h30, em mesa mediada pelo artista visual Geraldo Jesuíno, lenda viva do quadrinho cearense.
MAIS INFORMAÇÕES:
IX Bienal Internacional do Livro do Estado do Ceará. Até 18 de abril de 2010, Centro de Convenções de Fortaleza (Av. Washington Soares, 1141). Site: www.bienaldolivro.ce.gov.br
Contato: (85) 3261.2022
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
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